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O Chato do Casagrande/ Xadrez e Futebol: O Senso Comum em Xeque

O esguio atleta olha atentamente para o centro do alvo. O golpe deve ser fulminante. Ele pensa: “Será que ele sabe para que lado vou?”. O momento é de absoluta tensão. Apesar das várias pessoas que assistem ao espetáculo, um silêncio ensurdecedor paira pelo local. Os olhares dos adversários cruzam-se. Pensa no placar. Não há mais tempo. É tudo ou nada. Ele parte em direção ao desconhecido…

E agora? O que o “esguio atleta fez”? Sacrificou uma peça ou cobrou um pênalti? Muito provavelmente, por você estar lendo este texto no lugar onde o está lendo, vai pensar que se trata de um jogo de xadrez. Os elementos estão lá: centro; golpe; silêncio; tempo; desconhecido. Mas… isso também não seria elemento do futebol? O centro (do campo; ou do gol); o golpe (o chute); o tempo (de jogo, da bola); o desconhecido (como qualquer bom jogo – e como a própria vida e o destino).

O senso comum possui uma importância enorme na história dos problemas filosóficos, sobretudo por estar associado à experiência tradicional. Num exemplo gritante (e como exemplos são problemáticos – este texto é sobre isso), se você coloca a mão no fogo e se queima, logo, pular dentro de uma fogueira não parece ser uma boa ideia. Por outro lado, não é porque certo dia você comeu morangos e passou mal que você passará mal sempre que comer morangos – embora isso também possa acontecer.

A questão vai longe e há quem diga que, hoje em dia, criticar o senso comum também se tornou senso comum. Resumindo a história – antes que caiamos dentro da Matrix e não saiamos mais de lá – vamos ao episódio:

No domingo, 03 de abril, o ex-jogador de futebol Walter Casagrande estava comentando o clássico entre Palmeiras e Corinthians, transmitido pela Rede Globo, quando, para expressar o seu tédio com o marasmo da partida, disse: “O jogo está chato como uma partida de xadrez”.

Pode isso, Arnaldo?

No mesmo dia 03 de abril nosso GM Rafael Leitão publicou a seguinte declaração na sua página pessoal do Facebook:

“Chato como um jogo de xadrez”. Estas foram as palavras do Casagrande durante a transmissão do jogo de hoje. Será que ele sabe o movimento de alguma peça? Será que sabe o que é um xeque-mate? Infelizmente trata-se de reprodução de uma frase totalmente clichê, sem qualquer relação com a realidade, disseminada por alguém que nada conhece do jogo de xadrez. E que acha normal tratar com desprezo um “esporte-ciência” amado por milhões de pessoas em todo o mundo. É lastimável que um “comentarista esportivo”, um formador de opinião – afinal fala para milhões de pessoas –, passe uma imagem tão negativa de uma atividade tão nobre e que tantos benefícios trazem aos seus praticantes. Só me resta lamentar esta declaração e recomeçar as partidas que estava jogando na internet antes de escrever este post.

O post do GM Leitão alcançou mais de 100 comentários, mais de 200 compartilhamentos e mais de 600 “curtidas” (os famosos likes). Um número muito pequeno se comparado (como é problemático comparar as coisas…) ao número de pessoas que assistiam à partida de futebol em questão – ou o número de comentários/curtidas que um simples bom dia do jogador Neymar ganha em qualquer rede social.

(*) Fonte: Site do Rafael Leitão
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